sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Hiperatividade na Infância e Adolescência

Afinal, como saber se seu filho ou seu aluno é hiperativo? Ou melhor, se ele sofre de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade? Na edição de Agosto deste jornal, a Psicóloga Mariângela Feijó salientou que este pode ser um problema importante, porém de difícil diagnóstico. Adiciono aqui a idéia de que a avaliação do comportamento hiperativo é sempre subjetivo, particular e vai depender do ambiente onde esta criança é observada. Isto em função de que a Hiperatividade é um termo aplicado a um pequeno grupo bastante heterogêneo de crianças e caracterizado por um leque muito variável de comportamentos. Sigo esta mesma linha de pensamento concordando que, na verdade, o grande problema com o qual realmente nos deparamos diz respeito a má interpretação que os adultos fazem dos comportamentos das crianças.
São muitas as situações que “escondem” sofrimentos da ordem emocional que são expressos em comportamentos agressivos, que perturbam a “ordem” nos diversos ambientes em que a criança interage e que são considerados - erroneamente - comportamentos hiperativos. É comum, por exemplo, observarmos que algumas crianças, ao desconhecerem as regras disciplinares da escola ou ao enfrentarem uma situação onde se espera um comportamento ao qual elas não estão habituadas, sejam rotuladas como hiperativas. Também crianças com mau rendimento escolar podem se tornar ansiosas diante de suas dificuldades e do sentimento de fracasso, passando a expressar esta ansiedade através de desinteresse ou de excessiva movimentação em aula. Além disso ela pode exacerbar suas ações em determinados ambientes e circunstâncias, sem que isto se constitua em uma doença.
No site oficial da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (www.tdah.org.br) está veiculado um questionário simples que pode servir de ajuda ao questionamento inicial deste texto. Visite o site pois lá constam mais informações sobre o assunto. Lembro que essa triagem inicial - ou pré-diagnóstico- pode ser feita pelos pais, pelo professor ou orientador educacional da escola e/ou pelo pediatra, mas que, para aquelas crianças com problemas de fato, a avaliação de um único profissional é insuficiente, necessitando-se de uma abordagem específica multiprofissional. Não se pode fazer o diagnóstico de TDAH baseado apenas nos sintomas isolados. Alguns desses sintomas necessariamente devem estar se apresentando desde antes dos 7 anos de idade e, além disso, deverá ser considerado o fato de os problemas causados pelos sintomas aparecerem em pelo menos 2 contextos diferentes (por ex., na escola, no trabalho, na vida social e em casa). Se existir um outro problema como depressão, deficiência mental, psicose, autismo, etc., os sintomas não poderão ser atribuídos exclusivamente ao TDAH.
Por fim, é importante dizer que o TDAH é bastante comum hoje em dia ocorrendo em 3 a 5% das crianças do mundo. Os meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, mas todos são desatentos. Em mais da metade dos casos, o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas se tornem, com a maturidade, mais brandos.
A atuação dos profissionais envolvidos com essas crianças deve ser no sentido de procurar entender os determinantes envolvidos, identificando formas específicas de ajuda à criança, equacionando o problema sem o uso de critérios centrados num conceito de comportamento “desviante“, em relação a um determinado grupo social. Sendo assim, torna-se absurda a idéia de uma terapia somente medicamentosa ou somente de reorientação pedagógica.

Nereida da Silveira Rocha Otten
Psicóloga e Especialista em Psicopedagogia - CRP 07/02834
Cel.93358689

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelos esclarecimentos. É importante desmistificar a generalização do termo HIPERATIVIDADE que vem erroneamente rotulando muitas crianças!
Andréa